Pesquisar este blog

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Resenha: O que é a Educação


BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 28o ed., 1993.


Síntese de ideias


Ninguém escapa a educação. Esse é primeiro enunciado de Brandão que visa uma reflexão sobre o tema que se discutirá em toda obra. Brandão não aponta um único modelo de educação, nem aponta um local exato de como e onde se aprende, bem como qual seja mais eficiente ou mais desenvolvida. Segundo o autor, em casa, na rua, na igreja ou na escola, estamos sempre envolvidos com ela: para aprender, ensinar, aprender e ensinar.


O exemplo usado é de uma carta de um representante indígena que pontua diferenças entre a educação indígena e a educação do homem branco. Certamente, o modelo de educação representa a base do grupo a que se destina. São mundos diversos a realidade de um agricultor ou camponês para um executivo, dizendo, é claro, em questões práticas.


Para Brandão, existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo. Ela existe em cada povo ou entre povos que se encontram. A edução torna-se parte do ser humano da família à sociedade, dependendo do modelo organizacional, passa ou não pela escola.


A educação pode existir livre e, entre todos, pode se tornar uma maneira de tornar comum saber, ideias, costumes, crenças etc. Essa raiz que legitima o modelo educacional de cada esfera social e corrobora para sua aceitação prática e na ideologia de seus grupos sociais. Portanto, para Brandão, não existe uma educação e sim educações.


A educação pode existir, independentemente, da existência de uma escola. Isso não quer dizer, porém, que inexistam as redes de intercâmbio de saberes, de trocas de experiências e costumes entre uma geração e outra. Em muitas sociedades, a escola não possui esse papel de translado da educação: “a própria vida aprende e ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser”.


Cita-se que os bichos tanto aprendem de dentro para fora, com seu instinto, tanto de fora para dentro observando a conduta de seus iguais e repetindo muitas vezes essas condutas da espécie, por conta própria.


O homem, porém, transforma , com o trabalhado e a consciência, partes da natureza em invenções de sua cultura. Nessas instâncias começa-se a delinear a estruturas mais intensas de relação entre os homens entre si e em relação ao meio. Surgem as diferenças nos padrões de cultura e na relação de poder.


Quanto mais complexas forem essas estruturas , a sociedade vai se organizando em uma educação cujos princípios norteiam uma amplitude de sua abrangência: é quando a educação passa a ser o modelo de transmissão do saber inerente a prática profissional e acesso ascendente aos valores e costumes da educação dita padrão.


No capítulo em que Brandão tenta definir um conceito de Educação, busca comparar o que pensadores pedagogos, professores pensam sobre. O objetivo é não fechar um conceito, mas entender que a educação é plural, política e embora seja individual, no sentido de recebê-la, é social porque engloba grupos sociais com objetivos e interesses claros. Educação, por seguir mais a realidade objectual do que a lei, acaba por sacramentar as disparidades de objetivos e a divisão de classes. Brandão afirma que não há igualdade no país, os brasileiros têm uma educação ideal ( que se espera ter) e uma real (a que se tem) e a educação, ao contrário do que deveria fazer, consolida a estrutura classista.


Quando se pensa a educação a partir dos conceitos derivados dos termos escola/ ensino, acaba-se por delimitar a educação num espaço apenas físico. Educação é a algo que ocorre entre pessoas e sociedade. Tanto pode ser de dentro para fora (educere) quanto de fora para dentro. São intercâmbios constantes. Se fosse a educação um processo unilateral, seríamos tábulas rasas, seres passivos, acríticos.

A educação pode ocorrer em espaços não institucionalizados.`Pode ser mais do que o conceito de ensino em unidades escolares. Educação é amplo e contínuo processo que se inicia ao nascer e só termina ao fim da vida.

Para entendermos, vejamos um excerto do livro que aponta para um modelo de educação:


As crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia, à caça e à freqüência aos ginásios” (p.40).


Acerca dessa concepção, Xenofonte, um historiador, poeta e filósofo militar grego, criticaria quase dois séculos depois ao afirmar:

Só os que podem criar seus filhos para não fazerem nada é que os enviam à

escola; os que não podem, não enviam.” (p.40)


A concepção de educação do jovem livre caminha em direção à teoria, que é o saber do nobre para compreender e comandar, não para fazer, curar ou construir. Desse modo, teríamos uma educação para o nobre, cidadão e outra para os demais gregos.


A tecne é desenvolvida de maneira simples e direta, na oficina e no trabalho, através do convívio com algum velho artífice. Estas divisões de classes produziram diferenças curiosas entre os tipos de educadores da Grécia antiga. De um lado, desprezíveis mestres-escola e artesões professores; de outro, escravos pedagogos e educadores nobres, ou de nobres. De um lado a prática de instruir para o trabalho; de outro, a de educar para a vida e o poder que determina a vida social.


A obra de arte da paidéia é a pessoa plenamente madura como cidadã, como militar ou como político, posta a serviço dos interesses da cidade-comunidade. Assim, o ideal da educação é reproduzir uma ordem social idealmente concebida como perfeita e necessária, através da transmissão, de geração a geração, valores e habilidades que tornavam um homem tão mais perfeito quanto mais preparado para viver a cidade a que servia.


Com o passar do tempo a educação clássica deixa de ser um assunto privado, passando a ser uma questão de interesse de estado (pública). Por volta do VI século a.C., Aristóteles “exige do imperador leis que regulem direitos e controlem o exercício da educação. Com o tempo, o modelo de educação grega se expande e se torna exemplo para o mundo.


O princípio que orientou toda a educação clássica dos gregos foi sempre entendido como um “processo pelo qual a cultura da cidade é incorporada à pessoa do cidadão. Uma trajetória de amadurecimento e formação (como a obra de arte que aos poucos se modela), cujo produto final é o adulto educado, um sujeito perfeito segundo um modelo idealizado de homem livre e sábio, mas ainda sempre aperfeiçoável. Assim, a educação grega não é dirigida à criança no sentido cada vez mais dado a ela hoje em dia. De algum modo, é uma educação contra a criança, que não leva em conta o que ela é, mas olha para o modelo do que pode ser, e que anseia torná-la depressa o jovem perfeito (o guerreiro, o atleta, o artista de seu próprio corpo-e-mente) e o adulto educado (o cidadão político a serviço da polis)” (p. 46-47).



Nenhum comentário:

Postar um comentário