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sábado, 28 de agosto de 2010

Perspectiva de tratamento da produção de texto

1. A perspectiva do texto como produto

Ao tratarmos o texto como um produto, podemos apreender essa tese a partir de dois prismas; o primeiro se trata da concepção de que um produto é algo acabado, trabalhado, perfeito sem necessidade de retoques, pronto para ser utilizado. O segundo, trata a partir de uma perspectiva sobre a qual o texto seria um produto a ser consumido, ou seja, que sofrer a ação direta do consumidor.Aliamos por isso, esses dois prismas porque entendemos que o texto é um produto semipronto e, é o leitor, consumidor que irá interagir nesse processo que engloba produto e consumidor, que nada mais é que a relação texto leitor.

Por isso,para Marcuschi, é tão essencial a relação aluno/texto. Essa relação se deve porque o aprendiz que pretende elaborar textos necessita de uma proximidade com os mais diversos tipos de gêneros textuais e compreender as características de cada um, a que público se refere, qual a intenção, em que meio é vinculado. O aluno se depara com a realidade cotidiana a qual ele é um consumidor, inclusive de textos. O aluno se comunica através de gêneros textuais e no entanto, aprende nas escolas e com base nos LDP apenas por meio de frases.

Não é raro encontrarmos LDP que permanecem teorizando a partir de frases quando o que é mais eficaz para o aluno é o texto como unidade de ensino.Com o avanço da Lingüística Textual, pudemos notar avanços nessa área.Professores têm evoluído no sentido de ensinar a partir de textos.

Quando falamos que o texto está semipronto, abordamos algo essencial que se chama dialogismo, os textos dialogam entre si, seja escrito ou oralmente. O texto torna-se um produto pronto quando ele consegue comunicar algo a alguém, e, nesse momento ele começa a sofrer a influência do seu leitor nessa relação que surge. Essa é a função social da linguagem textual: um instrumento de comunicação. Por isso, falamos do texto como um produto não acabado e que para ser “ponto” precisa ser consumido pelo seu interlocutor, pois um e outro se interpenetram.

A tendência que a muito está em voga na metodologia de ensino é enxugar os textos. Os professores ditos tradicionais, utilizam os melhores textos dos mais diversos tipos de gêneros para retirar frases e aplicá-las no ensino de “pura gramática” . O próprio Marcuschi afirma que o ensino a partir de frases é insuficiente para servir de base teórica ao aprendizado sobre o funcionamento do texto. “É possível compreender uma frase a partir do ensino do texto mas, é impossível compreender o texto a partir do ensino de uma frase”, por isso a competência textual não se explica através da expansão da competência frásica.Um passo importante para que tenhamos alunos com competência textual é criar mecanismos dentro de sala, na escola ou em casa, que suscite nele à vontade de ler. O aluno que lê, vai automatizando as características de cada gênero lido. E, com a ajuda do professor, logo se torna capaz de distinguir aspectos peculiares a cada gênero textual.Ao ler, o aprendiz, vai registrando em sua memória formas de escrever, estruturas, palavras novas e informações que aumentarão seu conhecimento de mundo, se tornando crítico e capaz de compor textos coesos e coerentes pela gama de leitura e a experiência que adquiriu.Essa é a contribuição da lingüística, pensar, refletir e ensinar através dos textos como unidade da linguagem em uso.Ninguém se comunica por frases isoladas e descontextualizadas. Na verdade, Bakhtin defende o dialogismo, porque segundo ele estamos sempre emendando um discurso já existente. Por isso, o fato de a língua ser um fato social que se remete a uma dada situação de uso real. A linguagem é a manifestação elocutiva de cada um.

A lingüística colaborando para uma otimização no processo de criação e de ensino-aprendizagem considerou fatores essências para a definição da textualidade:

O primeiro fator formal é a coesão.

”Um texto não é apenas uma seqüência ou soma de frases isoladas”
(KOCH, Ingedore Vilaça. Coesão textual.Ed. contexto.SP,2004).

Podemos então, a partir dessa asserção, desmistificar a eficiência do ensino de frases para a compreensão de textos. Os mecanismos de coesão estabelecem relações precípuas na concatenação das idéias que compõem o todo de um texto. É por meio desses recursos que podemos tecer cada fio do texto formando uma tessitura do texto. São esses mecanismos que estabelecem ralação de sentido no texto na ligação de cada enunciado. Segundo Koch apud Halliday & Hasan (1976) a coesão é um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no interior do texto e aquilo que o define como texto. Ainda segundo eles,a coesão ocorre quando algum elemento do discurso é dependente do outro.Por isso,o ensino, apenas por meio de frases isoladas de seu de seu contexto, não é capaz de formar alunos capazes de entender as inter-relações que cada frase possui no texto na produção de sentido. A textualidade só é possível através do domínio desses mecanismos. Marcuschi (1983) define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto” afirma ainda que não se trata de elementos meramente sintáticos mas de “uma espécie de semântica da sintaxe textual”. Com isso,podemos atentarmo-nos às deficiências que há em nossos alunos em interpretação de texto devido ao ensino meramente sintático sem se preocupar com o significado semântico que a frase possui no gênero de origem. Dessa forma, o aluno fica impossibilitado de “consumir” o texto, ficando com as migalhas das frases.
O segundo fator é semântico-conceitual representado pela coerência.A coerência é, por assim dizer ,mecanismo capaz de estabelecer um sentido para o texto e fazê-lo ser compreensível ao usuário. A coerência é o principio da inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e que fornece ao leitor subsídio para uma compreensão de seu sentido. E, este sentido é um todo, amplo, já que a coerência abarca toda a superfície textual.

Em seu livro, Koch apud Van Djik e Kintchi (1983) os quais falam de coerência local, referente à parte do texto ou frases ou seqüências de frases dentro do texto; e coerência global que diz respeito na sua totalidade. Koch defende a tese de que a coerência é sempre global e, a coerência local advém do bom uso da língua em seqüências menores,para expressar sentidos que podem possibilitar uma realização comunicativa.

O terceiro fator é a pragmática. Os filósofos John Austin e Paul Grice este defende a linguagem não como descritiva mas com a função de agir o outro mostra que a linguagem natural comunica mais do que aquilo que se apresenta num enunciado pois apresenta conteúdos implícitos devidos ao contexto no ato da fala. De fato,a pragmática está relacionada ao funcionamento do texto em relação a seu contexto, sua situação comunicativa no âmbito social, no uso da linguagem.A lingüística tem nos apresentado, com isso, os aspectos relevantes nos textos tais como: intencionalidade; esta como concernente ao empenho do produtor em construir um discurso capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A aceitabilidade a qual tange ao que diz respeito ao destinatário, interlocutor que entra em contato como texto. Quanto mais coeso e coerente e mais próximo da utilidade prática mais aceitação terá o texto. A situacionalidade que também está relacionado a pragmática pois sublinha a importância do contexto na compreensão da situação sócio-comunicativa. A intertextualidade, diálogo entre textos que a partir do conhecimento prévio de mundo do interlocutor é capaz de diversificar e ampliar o discurso. A informatividade que se relaciona a de informação, comunicação que o texto passa ao seu interlocutor.Enfim, há outros que podem ser citados em outros estudos.
Na década de 90, além dos debates sobre fatores da textualidade começou a surgir também um estudo mais acentuado sobre gêneros e tipos textuais. Ao fazermos esse estudo sobre “Gêneros textuais” devemos fazer, primeiramente, uma distinção entre gênero literário e gênero textual. O gênero literário, segundo Aristóteles e outros teóricos de mesma linha são os que se referem a obras de cunho lírico, épico e dramático. Já os gêneros textuais, segundo Marcuschi, “são entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação discursiva” seja na escrita ou oralmente. Com isso, a sociedade se comunica e, nesse processo comunicativo perfaz os gêneros textuais.

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