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sábado, 28 de agosto de 2010

A orientação dos PCNs para o ensino de produção de texto e algumas tendências presentes nos LDPs

A orientação do PCN é clara no que tange ao ensino da escrita.Introduzir métodos que privilegiem o aspecto sociointeracionista na produção de textos.Por isso, aconselham o uso dos gêneros como unidade de ensino o qual remonta ao uso do texto e da língua em seu uso social; “quem diz, diz a quem e como diz” essas perguntas leva o aluno a se posicionar de forma crítica diante do texto e entender o funcionar de cada gênero e a função que desempenha no meio social. O docente deve instigar o aluno a criar texto e produzir gêneros textuais.

“formar escritores competentes supõe, portanto, uma prática
continuada de produção de textos na sala de aula, situações
de produção de uma grande variedade de textos de fato e uma
aproximação das condições de produções às circunstancias nas
quais se produzem esses textos.”

O texto supracitado nem sempre se concretiza no ambiente escolar. Muitos professores calçados em LDP que não privilegiam os ensinos de lingüística do texto, acabam criando hábitos de recomendar os alunos a apenas fazerem textos, narrativos, descritivos e dissertativos tratando-os ainda como gêneros. Essa abordagem estruturalista que tira do texto seu caráter discursivo e o coloca simplesmente como uma redação escolar tira o enfoque sociointeracionista proposto pela lingüística social.

O LDP PROENÇA, Graça.HORTA, Regina.A palavra é Português.ed.Ática SP,1999 (8ºsérie p.119) traz em sua unidade ensino “Propostas de redação” a seguinte tipologia de exercício para a elaboração de textos:

Observe esta foto. (foto de quatro jovens juntos subindo as ruas de Ouro Preto M.G) Crie dois parágrafos descrevendo o que você vê.Um dos parágrafos deve ter um enfoque objetivo: tente retratara cena independentemente de sua interpretação e dos sentimentos que ela pode causar em você. No outro parágrafo,realize uma mudança de enfoque: sua descrição deve conter a subjetividade, o seu mundo interior, os sentimentos que ela provoca em você. Dê um titulo adequado a cada um dos parágrafos. (p. 119)

Essa proposta de texto é um pretexto para ensinar gramática pela gramática. A descrição nessa proposta, certamente comprometerá a semântica do texto. O aluno estará preocupado em descrever apenas e não em fazer um texto coeso e coerente já que nem mesmo é mencionado na questão. “Essa é uma tipologia de base clássica como referência central para a progressão no domínio da escrita”, esse tipo de questão volta a patentear narração, descrição e dissertação como gêneros.

A tipologia textual representa características estruturais de sequências textuais que pode figurar nos mais diversos gêneros textuais. Na parte que tange ao nosso estudo, “compreensão de texto”, há pesquisas que revelam uma didática pouco eficaz na elaboração de propostas nos livros de português. A ineficácia dessa didática-pedagógica não se dá na forma como se trabalha a produção de texto, mas na forma com que são elaboradas as questões para compreender os textos. Os alunos acabam sendo vítimas de um método que restringe sua capacidade intelectual de produzir, pensar, e polemizar os textos devido às propostas que esbarram na unívoca forma de pensar o texto, deixando de gerar os discursos essências a formação consciente de um cidadão crítico capaz de interagir com o texto.
O próprio PCN sugere o domínio da linguagem como atividade discursiva e cognitiva. Por isso, é dever dos LDP e dos professores conduzir o aluno a interação criação de texto plurissignificativo e com o outro. A partir daí, a compreensão de texto seria vista como um processo criativo, construtivo que vai além do que está somente nas marcas textuais. De essa forma preterir-se-ia o mito do texto monossemântico e de pura decodificação.


Bibliografia

MARCUSCHI,Luiz Antonio.Compreensão do texto: Algumas reflexões. In:DIONÍS,Ângela P.;BEZERRA,Maria Auxiliadora.O livro didático de Português.RJ:Lucerna,2001

Uma conseqüência didática do texto

     Uma das características dos gêneros textuais é a maleabilidade de adaptação às necessidades de comunicativa do Mundo Pós-Moderno. O uso frequente desses meios de interação pela linguagem para comunicar-se com a comunidade lingüística, seja ela oral ou escrita é responsável pela ratificação do gênero. O homem se comunica de várias formas e por vários meios, por isso, a gama de gêneros textuais dos quais utilizamos é grande e diversificada; telefonemas,e-mail carta,bilhete,sermão,edital, aula expositiva etc. Essas formas textuais são gêneros por que foram materializados pelo uso sócio-discursivo maciço no cotidiano.

     Os gêneros são muito variados e ultrapassam o número dos quatro mil, segundo pesquisas desenvolvidas atualmente. Os “tipos textuais” existem em menor número e são estes: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.Lembremos que estes tipos estão presente tanto escrita como na fala. Ex: Os jornais televisivos,na leitura dos escritos, conservam os tipos seja narrativo, argumentativo, descritivo ou outro qualquer no ato da fala. O tipo textual é uma nomeclatura nova haja vista durante muito tempo foi tratado como gênero: narração, descrição e dissertação. Hoje porém, os lingüistas os chamam tipos textuais ou seqüências tipológicas.Convém lembrar que um gênero não é composto de apenas um tipo textual o que pode haver é a predominância de um ou outro.Nos gêneros textuais percebemos trechos de narração,descrição e argumentação. Essa heterogeneidade tipológica é comum nos gêneros pois ninguém se comunica ou escreve só narrando, descrevendo ou argumentando muito menos apenas fazendo injunção e exposição. Há sempre trecho deste ou daquele tipo.

     O professor pode com os gêneros textuais aplicar o ensino de língua portuguesa com a linguagem presente nos gêneros. Apontar características de cada um gênero, particularidades a que publico se destina, tempos verbais, o tipo de linguagem,reconhecer verbo como marca de seqüência narrativa, identificar a função de substantivos e adjetivos na construção de personagens diferenciar a linguagem conotativa da ficção da linguagem denotativa da noticia, da reportagem enfim,o professor pode fazer dos gêneros um instrumento de ensino que tem como base a própria realidade discursiva.

Perspectiva de tratamento da produção de texto

1. A perspectiva do texto como produto

Ao tratarmos o texto como um produto, podemos apreender essa tese a partir de dois prismas; o primeiro se trata da concepção de que um produto é algo acabado, trabalhado, perfeito sem necessidade de retoques, pronto para ser utilizado. O segundo, trata a partir de uma perspectiva sobre a qual o texto seria um produto a ser consumido, ou seja, que sofrer a ação direta do consumidor.Aliamos por isso, esses dois prismas porque entendemos que o texto é um produto semipronto e, é o leitor, consumidor que irá interagir nesse processo que engloba produto e consumidor, que nada mais é que a relação texto leitor.

Por isso,para Marcuschi, é tão essencial a relação aluno/texto. Essa relação se deve porque o aprendiz que pretende elaborar textos necessita de uma proximidade com os mais diversos tipos de gêneros textuais e compreender as características de cada um, a que público se refere, qual a intenção, em que meio é vinculado. O aluno se depara com a realidade cotidiana a qual ele é um consumidor, inclusive de textos. O aluno se comunica através de gêneros textuais e no entanto, aprende nas escolas e com base nos LDP apenas por meio de frases.

Não é raro encontrarmos LDP que permanecem teorizando a partir de frases quando o que é mais eficaz para o aluno é o texto como unidade de ensino.Com o avanço da Lingüística Textual, pudemos notar avanços nessa área.Professores têm evoluído no sentido de ensinar a partir de textos.

Quando falamos que o texto está semipronto, abordamos algo essencial que se chama dialogismo, os textos dialogam entre si, seja escrito ou oralmente. O texto torna-se um produto pronto quando ele consegue comunicar algo a alguém, e, nesse momento ele começa a sofrer a influência do seu leitor nessa relação que surge. Essa é a função social da linguagem textual: um instrumento de comunicação. Por isso, falamos do texto como um produto não acabado e que para ser “ponto” precisa ser consumido pelo seu interlocutor, pois um e outro se interpenetram.

A tendência que a muito está em voga na metodologia de ensino é enxugar os textos. Os professores ditos tradicionais, utilizam os melhores textos dos mais diversos tipos de gêneros para retirar frases e aplicá-las no ensino de “pura gramática” . O próprio Marcuschi afirma que o ensino a partir de frases é insuficiente para servir de base teórica ao aprendizado sobre o funcionamento do texto. “É possível compreender uma frase a partir do ensino do texto mas, é impossível compreender o texto a partir do ensino de uma frase”, por isso a competência textual não se explica através da expansão da competência frásica.Um passo importante para que tenhamos alunos com competência textual é criar mecanismos dentro de sala, na escola ou em casa, que suscite nele à vontade de ler. O aluno que lê, vai automatizando as características de cada gênero lido. E, com a ajuda do professor, logo se torna capaz de distinguir aspectos peculiares a cada gênero textual.Ao ler, o aprendiz, vai registrando em sua memória formas de escrever, estruturas, palavras novas e informações que aumentarão seu conhecimento de mundo, se tornando crítico e capaz de compor textos coesos e coerentes pela gama de leitura e a experiência que adquiriu.Essa é a contribuição da lingüística, pensar, refletir e ensinar através dos textos como unidade da linguagem em uso.Ninguém se comunica por frases isoladas e descontextualizadas. Na verdade, Bakhtin defende o dialogismo, porque segundo ele estamos sempre emendando um discurso já existente. Por isso, o fato de a língua ser um fato social que se remete a uma dada situação de uso real. A linguagem é a manifestação elocutiva de cada um.

A lingüística colaborando para uma otimização no processo de criação e de ensino-aprendizagem considerou fatores essências para a definição da textualidade:

O primeiro fator formal é a coesão.

”Um texto não é apenas uma seqüência ou soma de frases isoladas”
(KOCH, Ingedore Vilaça. Coesão textual.Ed. contexto.SP,2004).

Podemos então, a partir dessa asserção, desmistificar a eficiência do ensino de frases para a compreensão de textos. Os mecanismos de coesão estabelecem relações precípuas na concatenação das idéias que compõem o todo de um texto. É por meio desses recursos que podemos tecer cada fio do texto formando uma tessitura do texto. São esses mecanismos que estabelecem ralação de sentido no texto na ligação de cada enunciado. Segundo Koch apud Halliday & Hasan (1976) a coesão é um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no interior do texto e aquilo que o define como texto. Ainda segundo eles,a coesão ocorre quando algum elemento do discurso é dependente do outro.Por isso,o ensino, apenas por meio de frases isoladas de seu de seu contexto, não é capaz de formar alunos capazes de entender as inter-relações que cada frase possui no texto na produção de sentido. A textualidade só é possível através do domínio desses mecanismos. Marcuschi (1983) define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto” afirma ainda que não se trata de elementos meramente sintáticos mas de “uma espécie de semântica da sintaxe textual”. Com isso,podemos atentarmo-nos às deficiências que há em nossos alunos em interpretação de texto devido ao ensino meramente sintático sem se preocupar com o significado semântico que a frase possui no gênero de origem. Dessa forma, o aluno fica impossibilitado de “consumir” o texto, ficando com as migalhas das frases.
O segundo fator é semântico-conceitual representado pela coerência.A coerência é, por assim dizer ,mecanismo capaz de estabelecer um sentido para o texto e fazê-lo ser compreensível ao usuário. A coerência é o principio da inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e que fornece ao leitor subsídio para uma compreensão de seu sentido. E, este sentido é um todo, amplo, já que a coerência abarca toda a superfície textual.

Em seu livro, Koch apud Van Djik e Kintchi (1983) os quais falam de coerência local, referente à parte do texto ou frases ou seqüências de frases dentro do texto; e coerência global que diz respeito na sua totalidade. Koch defende a tese de que a coerência é sempre global e, a coerência local advém do bom uso da língua em seqüências menores,para expressar sentidos que podem possibilitar uma realização comunicativa.

O terceiro fator é a pragmática. Os filósofos John Austin e Paul Grice este defende a linguagem não como descritiva mas com a função de agir o outro mostra que a linguagem natural comunica mais do que aquilo que se apresenta num enunciado pois apresenta conteúdos implícitos devidos ao contexto no ato da fala. De fato,a pragmática está relacionada ao funcionamento do texto em relação a seu contexto, sua situação comunicativa no âmbito social, no uso da linguagem.A lingüística tem nos apresentado, com isso, os aspectos relevantes nos textos tais como: intencionalidade; esta como concernente ao empenho do produtor em construir um discurso capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A aceitabilidade a qual tange ao que diz respeito ao destinatário, interlocutor que entra em contato como texto. Quanto mais coeso e coerente e mais próximo da utilidade prática mais aceitação terá o texto. A situacionalidade que também está relacionado a pragmática pois sublinha a importância do contexto na compreensão da situação sócio-comunicativa. A intertextualidade, diálogo entre textos que a partir do conhecimento prévio de mundo do interlocutor é capaz de diversificar e ampliar o discurso. A informatividade que se relaciona a de informação, comunicação que o texto passa ao seu interlocutor.Enfim, há outros que podem ser citados em outros estudos.
Na década de 90, além dos debates sobre fatores da textualidade começou a surgir também um estudo mais acentuado sobre gêneros e tipos textuais. Ao fazermos esse estudo sobre “Gêneros textuais” devemos fazer, primeiramente, uma distinção entre gênero literário e gênero textual. O gênero literário, segundo Aristóteles e outros teóricos de mesma linha são os que se referem a obras de cunho lírico, épico e dramático. Já os gêneros textuais, segundo Marcuschi, “são entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação discursiva” seja na escrita ou oralmente. Com isso, a sociedade se comunica e, nesse processo comunicativo perfaz os gêneros textuais.

Resenha do Filme "Quase dois irmãos

A narrativa do filme fragmenta-se em blocos temporais em que se contam os fatos, fazendo digressões a determinadas épocas, revivendo situações e conflitos. Desse modelo de narrar, conta-se o envolvimento de duas famílias: a de Miguel cujo pai, jornalista rico e morador da zona sul do Rio, se enveredava no gueto carioca em busca de samba; e a de Jorge, família pobre, pai sambista e mãe empregada doméstica.

A relação amistosa entre Miguel e Jorge tem início exatamente neste período em que seus respectivos pais se encontravam para uma boa roda de samba. As visitas à favela eram cada vez mais constantes e demoradas e, por isso, consolidava-se não só a amizade dos pais, mas, sobretudo, a dos filhos.

O filme conta, a princípio, a história de um grupo jovens da política de Esquerda no Brasil. Era um grupo que fazia oposição ao modelo ditatorial dos militares. O cenário do embate político ideológico era a cidade do Rio de Janeiro com seus contrastes geográficos, sociais, políticos e econômicos.

Os que faziam oposição ao Regime eram jovens de famílias de classe média, universitários, advogados, médicos, moradores de área nobre da cidade, com familiares de influências; pessoas que faziam parte da elite sócio-cultural da época.

Não demora muito para se perceber que esse grupo começa a ser vigiado mais de perto pelo Sistema vigente, uma vez que os jovens que o integram começam a praticar assaltos, seqüestros e, por vezes, até homicídios em razão da ideologia de Esquerda comunista.

Surge no seio da sociedade brasileira um movimento de oposição cada vez mais eminente, uma esquerda comunista declarada, ostensiva e ofensiva, o que fez com que a liderança militar reagisse de forma veemente, metendo no cárcere todos os que coadunassem com aqueles princípios reacionários. Declarados subversivos e uma ameaça ao país, muitos foram mortos, outros se asilaram e outros ainda encarcerados como presos políticos.

Ao passar do tempo, a Ditadura mantém viva no país a repressão, a censura, o cerceamento da liberdade e o controle de seus presos políticos, que muitas vezes eram torturados ou mortos. Por alguma razão, porém, nos anos finais da Ditadura, o governo militar começa a misturar os presos políticos com os presos comuns, talvez por desdém a condição política presos ou mesmo para dissimular a existência de presos políticos no Brasil.
Nesse ínterim, os dois amigos de infância, Miguel e Jorge, se reencontram na prisão em Ilha Grande, outrora, local para onde eram enviados os presos políticos. Nesse ambiente hostil e inóspito, presos comuns e presos políticos passam a conviver em um mesmo espaço onde diferenças históricas, sócio-culturais e econômicas gestam conflitos de opiniões e objetivos, constituindo em cada grupo Formação discursiva com ideologias distintas.

Podemos, então, dizer que temos como parte constitutiva do sentido o contexto histórico-social, o conflito de classes, o conflito de ideologias políticas e outros que aparecerão e mencionaremos na análise constitutiva do discurso.

Gênero Textual Manchete

Gêneros textuais são tipos específicos de textos de qualquer natureza: literários ou não. Desempenham um papel social de comunicação porque são historicamente determinados para desempenhar modelos discursivos, como defende Marcuschi.
As modalidades discursivas constituem as estruturas e as funções sociais (narrativas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser considerados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites, atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, cartazes, comédias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevistas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, instruções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias. São textos que circulam no mundo, que têm uma função específica, para um público específico e com características próprias. Aliás, essas características peculiares de um gênero discursivo nos permitem abordar aspectos da textualidade, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes ao gênero em questão.
A Manchete de jornal engloba um desses tantatos gêneros que utilizamos diariamente em nossas relações interdiscursivas, sociais, pragmaticamente determinadas.

Características:



Chama a atenção do leitor para o conteúdo informacional da notícia;

Quase sempre o texto verbal vem acompanhado de imagem;

Texto que amplia o argumento do texto;
Acompanhada do leed: resumo da notícia com todos os elementos essenciais à compreensão da matéria;

Qualidade: verdadeira, atual, interessante;




A linguagem jornalística

Adota o padrão culto da língua, sem contudo, perder de vista o universo vocabular do leitor. Exige o emprego mínimo de palavras e o máximo de informção, correção, clareza e exatidão.

Pressupostos e Subentendidos

Um pouco de teoria

A leitura reflexiva é considerada um ato cognitivo que envolve processos múltiplos, como percepção e reflexão sobre um conjunto complexo de componentes de que se constitui a estrutura de um texto.

Na sua compreensão, estão envolvidas as ativações do conhecimento prévio, o conhecimento sobre a estrutura textual e a ativação do conhecimento de mundo. Tudo isso é criação de sentidos. Alia-se a isso o contexto social, político e histórico, como forma de tornar clarividente a formulação discursiva.

Neste percurso entre destinador e destinatário, há um texto formal, polifônico, que medeia a comunicação, a interação. Por isso, deve haver pelo menos o mínimo de comunicabilidade entre as partes envolvidas, para que este enunciado seja de fato um texto para quem o leia. A isso, chamar-se-á de princípio de cooperação, segundo o qual os participantes devem partilhar um certo grau de conhecimento e colaborar para o sucesso da troca verbal, em que cada um sabe dos seus direitos e deveres, bem como dos direitos e deveres do outro.

Partindo do princípio de que para construir a interpretação de um texto é necessário que o destinatário respeite as "regras do jogo", defende-se a ideia da existência de um saber mutuamente conhecido, em que cada um (destinador e destinatário) aceita as regras e espera que seu parceiro no jogo respeite-as também.

Essas regras são chamadas de leis do discurso, normas que desempenham um papel importante na interpretação de enunciados e devem ser respeitadas pelos interlocutores participantes do ato comunicativo. A AD na busca de sentidos não vai investigar apenas o texto em sua estrutura interna, mas também descortinar todo envolto social, o que lhe é externo e o que contribui para produção efetiva dos sentidos.

Caso houvesse a produção textual com a exaustiva necessidade explicitar todo conteúdo informacional, demandaria tempo e espaço do suporte em que se veicula o texto. Por este motivo, é importante ressaltar a importância dos pressupostos e subentendidos como recursos de coerência e economia verbal. Não raras vezes, o jogo de sentido que o envolve faz parte do escopo teórico da análise do discurso, uma vez que do que se omite e do que se pressupõe pode-se perceber por meio de uma investigação do que é externo ao texto, relacionado-o ao seu contexto, caminhando para uma análise do discurso .

Quando Fiorin teoriza sobre “a linguagem em uso”, reafirma o caráter social e pragmático da linguagem, caso de notícia em questão. Não é apenas a língua como “espelho” representação do mundo, mas também como comunicação, como ferramenta de uso, de ação.

Um texto, seja ele um enunciado oral ou escrito, é um processo de escolhas, uma produção com objetivos e funções previamente definidas. Por isso, a análise estrutural, que preteria o contexto e o papel social do falante em detrimento de uma análise puramente interna à estrutura da língua, perdeu força para uma investigação mais pragmática. Com isso, a língua passa-se a ser analisada com critérios também do momento da enunciação, levando-se em conta o contexto, o lugar de onde se fala, quem fala e para quem se fala. A língua, então, produz seus discursos, seus intertextos e formulações discursivas na prática, em seu uso pelos seus falantes. Podemo observar isso, nesta notícia em que a informação requer do leitor uma participação efetiva, ativa jogando com os sentidos implícitos, não só na materialidade do texto.

De um modo geral, pode-se afirmar que o que está subentendido em um texto é o que está contido numa proposição, sem, contudo, estar expresso formalmente, manifestado pelo que se pode depreender por um cálculo interpretativo do leitor, mas não claramente declarado. Diz-se que o conteúdo subentendido reclama uma interpretação mais subjetiva do leitor, enquanto que a pressuposição, que é mais lógica, reclama mais analogia. Dessa forma o que é implícito no texto depende de um jogo de sentidos que o autor (destinador) acredita ser o seu leitor (destinatário) capaz de elucidar.

O conteúdo subentendido é tácito o que quer dizer o texto deixa pistas, marcas significativas que se entende, mas que não foi expresso na materialidade fônica, dependendo de uma análise maior. Assim, o leitor será levado a inferir uma proposição implícita, denominada implicatura, baseando-se que as leis do discurso são respeitadas pelo autor do enunciado.

Neste caso, o princípio de cooperação foi respeitado pelo enunciador, mas de uma maneira indireta. Este tipo de implícito que se evidencia pelo confronto do enunciado com o contexto de enunciação é denominado subentendido.

O Pressuposto é, essencialmente, aquilo que se supõe antecipadamente. A pressuposição é de caráter mais lógico e não depende de tantas inferências, uma vez que faz-se conjecturas sobre o conteúdo, uma espécie de suposição a partir de um silogismo em que uma das premissas vem maior ou menor grau inscrita no enunciado.

Análise do corpus: notícia

Mc Donald’s se pinta de verde
Síntese da notícia
A rede de lanchonetes Mc Donald’s trocou o tradicional vermelho de seu logotipo por um verde escuro para buscar imagem mais “ambientalmente amigável”, na Europa. Cerca de 100 lanchonetes da rede na Alemanha vão fazer a mudança até o final do ano, de acordo com a companhia


O texto que temos como objeto de estudo pertence a um gênero jornalístico. Trata-se de uma notícia com a seguinte manchete: Mc Donalds se pinta de verde.


O leitor, ao se deparar com esta mensagem impressa na manchete, logo é persuadido a buscar uma interpretação para ela. Entretanto, o processo do discurso, então elaborado, impede uma decodificação imediata da mensagem, levando o destinatário a re-elaborar os processos da mensagem, procurando abstrair seu componente de significação, ativando frames e desenvolvendo cálculos interpretativos na busca de sentido.

Observemos o corpus analisado:

1- Da Manchete, podemos indicar que primeiro há a pressuposição de que a cor verde não fazia parte constituinte do modelo estético/visual da rede de lojas do Mc Donald’s.
2- Do Lead, “Empresa troca cor da logomarca na Europa para criar identidade ambiental” podemos pressupor dessa oração (a sublinhada) subordinada adverbial de finalidade que outrora a empresa não tinha sequer uma identidade ambiental, carecendo, pois, de mudanças com finalidades a atingir este objetivo.
3- “Comumente associado a obesidade e a má alimentação”. Neste trecho, pressupomos que o Mc Donald’s não é unanimidade no ramo de fast food e nem seus são tão saudáveis seus lanches.
4- “A mudança começa na Alemanha. Por pressuposição, temos a idéia de que o país Europeu ainda não havia tido a mudança da cor original para o verde “ecológico”, pretensão da empresa para vários países Europeus .
5- “O Mc Donald’s quer reposicionar a rede com o bastião do ambientalismo”: O próprio prefixo “re”, associado a palavra “posição” aponta para uma idéia mudança de posicionamento, uma outra tomada de atitude da rede de fast food, que ao que se pode pressupor, não tinha um posicionamento tão ostensivo em relação a questão ambiental.
6- “Simplicidade e um foco nas coisas essenciais são o novo desenho filosófico da empresa”. Esse texto é parte da fala do vice-presidente da empresa. Embora, talvez, não tivesse a intenção de dizê-lo, o que se pode pressupor dessa afirmação é que antes, o foco filosófico da empresa não era as coisas simples e essências, neste caso a questão ambiental.
7- “Com a nova aparência, queremos deixar clara a nossa responsabilidade com os recursos naturais...” Neste trecho, temos clara a idéia de que a aparência anterior, o tradicional vermelho e amarelo mostarda, não deixavam evidente a posição sócio-ecológica da empresa, ou seja, pressupõe que tal mudança de aparência é oportuna para explicitar maior comprometimento com as questões ambientais.
Esses pressupostos, presentes na materialidade lingüística são mais lógicos, a afirmação de uma idéia é ao mesmo tempo a negação de outra. É como o clássico exemplo do “João parou de fumar”, ora, se ele parou quer dizer que ele fumava antes. O mesmo acontece se negarmos: “João não parou de fumar”; quer dizer que ele é um fumante.

Em um texto, e isso inclui os gêneros jornalísticos, pressupor é uma forma de falar algo, sem dizê-lo de forma explícita, pronta. Para Ducrot (1969) o “pressuposto” refere-se à natureza de um elemento semântico veiculado pelo enunciado, enquanto o “subentendido” caracteriza a forma pela qual um elemento semântico é introduzido no sentido.

Falemos agora dos subentendidos que observamos nesta notícia. O primeiro elemento subentendido desta noticia é a atuação preocupação da Empresa em manter sua imagem aliada ao “verde” do ecologicamente correto. Por isso, temos ainda:

1-A empresa se preocupa em desenvolver ações de responsabilidade social porque isso melhora o marketing de sua imagem;
2-O verde, sua nova cor, será relacionará o compromisso da empresa com a questão ecológica, dando-lhe credibilidade e respeito diante da sociedade.
3- O Mc Donald’s, com isso, busca mais consumidores e clientes com uma imagem de empresa com responsabilidade social.
4- O Mc Donald’s investe em ações afirmativas na Europa porque é neste continente que mais sofre críticas quanto a produtos e serviços.
5- A troca da cor do logotipo influenciará diretamente nos lucros da empresa com mais simpatizantes do ambientalismo consumindo seus produtos.




Conclusão:

Estes são alguns dos pressupostos e subentendidos que achamos pertinentes ressaltar. Lembramos que pressupor e subentender é importante para a compreensão dos sentidos de um texto, e cabe ao leitos buscar retirar do texto e do contexto informações pertinentes a sua compreensão, levando em conta, é claro, o gênero em que este texto está veiculado.

Referências Bibliográficas:
CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008
FIORIN, Luiz José. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ed. Ática, 2000
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio de Janeiro, Lucerna, 2007a.
Apostilas avulsas dadas pelo professor

Site:

http://vista-se.com.br/redesocial/mc-donalds-verde/